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Corrimento Vaginal: o que fazer?
Categoria Publicado as 16:31, em 04 de Março de 2015Uma das principais queixas ginecológicas relatadas pelas pacientes durante uma consulta médica é a presença de corrimento vaginal. Infelizmente cerca de 80% das mulheres apresentará pelo menos um episódio de corrimento vaginal durante a sua vida reprodutiva, sendo que, em alguns casos, o corrimento pode ocorrer de forma repetitiva (três ou mais episódios em um mesmo ano). Por culpa disso, optamos por conversar com vocês sobre esse assunto corriqueiro e que envolve uma série de mitos e realidades.
Primeiramente é importante ressaltar que nem todo corrimento vaginal é patológico, ou seja, algumas vezes o corrimento vaginal ocorre por um estímulo hormonal aumentado e não configura uma doença, sendo denominado de corrimento vaginal fisiológico. Um grande exemplo disso é o aumento da produção do muco vaginal durante a gestação ou durante a segunda fase do ciclo menstrual. Infelizmente, existem algumas mulheres que apresentam uma maior variação hormonal e, conseqüentemente, têm maior predisposição a apresentar corrimento vaginal.
A alteração da coloração ou do volume do corrimento vaginal e até mesmo o surgimento de coceira ou odor fétido pode ser o primeiro indício de que exista um corrimento vaginal patológico presente. Alguns fatores podem predispor um maior risco para o surgimento dessa alteração, principalmente o uso de lubrificantes vaginais, a depilação exagerada e freqüente, a utilização de absorventes internos ou externos em demasia, diabetes ou até mesmo a ingestão de esteróides.
O principal receio do surgimento do corrimento vaginal não está correlacionado apenas com a questão estética (odor e alteração do fluxo vaginal), mas sim com a possibilidade de surgirem novas infecções associadas, principalmente infecções causadas pelo HPV. Por isso, é fundamental que você fique atenta com qualquer mudança do seu fluxo vaginal e procure auxílio médico caso isso aconteça. O auto-tratamento com uso de pomadas vaginais (sem orientação médica correta) pode prejudicar e retardar o diagnóstico de uma possível alteração mais grave, como a doença inflamatória pélvica, por exemplo.
Como ocorre o surgimento do corrimento vaginal?
O canal vaginal é um ambiente composto por diversos fungos, bactérias e vírus que convivem de forma harmoniosa. A vagina apresenta um pH ácido (ao redor de 4 – 4,5) composto por diversos lactobacilos, que funcionam como células de defesa contra a proliferação de bactérias. Ao menor sinal de desequilíbrio nessa flora vaginal, pode ocorrer um aumento na concentração de bactérias, fungos ou vírus e, conseqüentemente, surgir o que chamamos de corrimento.
O desequilíbrio da flora vaginal pode ocorrer por diversos fatores, sendo até mesmo o estresse psicológico um dos responsáveis por essa alteração. Caso o corrimento vaginal comece a surgir de forma repetitiva, exames para pesquisa de anemia, hormônios tireoideanos, glicemia e exames para pesquisa de doenças auto-imunes devem ser solicitados.
Quem são os principais responsáveis pelo surgimento do corrimento vaginal?
Os principais agentes etiológicos responsáveis pelos corrimentos vaginais estão abaixo descritos:
- Candida albicans: é um fungo responsável por cerca de 90% dos casos de candidíase vaginal. Causa um corrimento vaginal esbranquiçado ou amarelado, grumoso, sem odor e com características de leite talhado. Além disso, apresenta coceira, dor na relação sexual e ardor para urinar. Os parceiros sexuais só devem ser tratados se apresentarem sintomas (principalmente vermelhidão peniana ou ardor para urinar);
- Trichomonas vaginalis: é um protozoário transmitido por contato sexual e causa a tricomoníase. Causa um corrimento vaginal abundante, bolhoso e com mau cheiro. É muito comum em pacientes que apresentam múltiplos parceiros sexuais. Deve ser tratado como uma doença sexualmente transmissível, ou seja, necessariamente o parceiro também deve ser tratado;
- Gardnerella vaginalis: é uma bactéria correlacionada com o surgimento de vaginose bacteriana. Geralmente não causa sintomas, sendo diagnosticada em exames de rotina. Em cerca de 25% dos casos pode causar um corrimento vaginal em pequena quantidade, microbolhoso e com odor fétido. O parceiro sexual só deve ser tratado em caso de recorrência do corrimento.
Principais sinais do corrimento vaginal:
a) Quantidade: normalmente uma mulher saudável apresenta pouco volume de fluido vaginal, podendo ocorrer um aumento desse conteúdo no período pré-menstrual devido às variações hormonais. Caso ocorra um aumento do volume desse fluído, você deverá ficar atenta e avaliar outros sinais associados.
b) Odor: o corrimento fisiológico deve ser inodoro. Caso você perceba o surgimento de odor (muitas vezes citado pelas pacientes como sendo um odor semelhante ao odor de “peixe podre”), isso pode ser sinal de alguma doença. É importante notar se o cheiro desagradável aumenta após a relação sexual ou durante o período menstrual.
c) Cor: é comum a cor ser um branco opaco e cristalino. Caso ocorram variações para o amarelado ou amarelo esverdeado, é indicado procurar seu médico. Em alguns casos, o corrimento vaginal amarronzado ou até mesmo tingido por coloração vermelha pode ser um sinal de lesão ocasionada pelo HPV.
d) Volume: como falamos, varia de acordo com as fases do ciclo menstrual da mulher. Por exemplo: o volume do corrimento vaginal pode aumentar na segunda metade do ciclo, podendo vir a sujar a calcinha (aliás, existem algumas mulheres que sabem o período exato do período fértil por apresentar um fluxo vaginal aumentado). Antes da primeira menstruação e após a menopausa, o corrimento é quase nulo.
e) Outros sinais: dor ao urinar, dor durante a relação sexual, coceira vulvar e dor no andar inferior do abdome podem representar sinais secundários de infecções vaginais.
Cuidar da sua saúde íntima é muito importante, por isso, mantenha uma relação de confiança com seu ginecologista. O corrimento vaginal deve ser diagnosticado precocemente e tratado de forma eficaz. Ele pode trazer sérias conseqüências, caso seja tratado de forma incorreta ou esteja sendo apenas algum indício de uma doença mais grave.